quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Zico comenta a crise na Gávea: 'Só volto como presidente'



'Não abandonei o barco. Eu fui chutado do barco', afirma Zico

Ex-diretor executivo afirma que gota d'água foi Patrícia ter vetado sua ida ao Conselho Fiscal para se defender. E para voltar ao clube, só 'mandando'

Por Eduardo Peixoto e Márcio Mará Rio de Janeiro
O maior ídolo da história do Flamengo resolveu falar. Em sua casa, na Barra, Zico expôs, nesta terça-feira, os motivos de ter surpreendido, na madrugada de quinta para sexta-feira, pelo seu site oficial, milhões de torcedores ao comunicar a saída do clube em que havia assumido, quatro meses atrás, o cargo de diretor executivo. E o maior alvo foi a presidente do clube, Patrícia Amorim. A gota d'água foi o fato de a dirigente, segundo o Galinho, ter vetado sua ida ao Conselho Fiscal no dia 29 de setembro, numa quarta-feira, para se defender das acusações do diretor Leonardo Ribeiro, o Capitão Léo, contra ele próprio e seus filhos, Júnior e Bruno, de irregularidades em contratações de jogadores e no contrato assinado com o CFZ.
- Não abandonei o barco, fui chutado do barco. Eu não me sentia o comandante. Queria ir me defender das acusações no Conselho Fiscal, mas a Patrícia insistiu: "Não vai lá, não vai lá, deixa que eu resolvo." Fui para Goiás, para o jogo. Chego lá, recebo um email de um amigo meu, que é conselheiro, dizendo que haviam marcado reunião urgente no Conselho para discutir um contrato do Flamengo com o CFZ que pode causar um prejuízo ao Flamengo de R$ 50 milhões. Eu tinha recebido um outro email da Patrícia dizendo que não ia acontecer mais essa reunião, que estava tudo resolvido. Aí, fico sabendo depois que houve a reunião (terça-feira, com Leonardo Ribeiro) e o diretor da base (Carlos Noval) é que foi explicar tudo. Quem tinha que ir era eu. As acusações eram contra mim e os meus filhos. Como ia continuar assim, numa situação dessas? Perde-se a confiança. Eu não tinha mais condição, me jogaram do barco, me alijaram..
zico entrevistaCom a veia inchada na altura da jugular, como nos velhos tempos de tensão quando jogador, Zico explica
os motivos de saída do Flamengo, onde ocupava o cargo de diretor executivo: 'Queria me defender das
acusações, mas a Patrícia disse 'não vai, não vai'. Perdi a confiança' (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
 Zico confirmou que fez críticas à presidente na frente do elenco na sexta-feira, 1º de outubro, dia em que se despediu dos jogadores e da comissão técnica (assista à entrevista).
- Disse para ela, na frente do plantel, e só fiz isso porque ela estava lá: "Você me apoiou pessoalmente, mas não me apoiou nos poderes do clube." Ela não defendeu ela mesma. Foi ela que fez a parceria. Tem que dar murro na mesa. E isso não aconteceu. O Flamengo não pode ser maculado - afirmou o Galinho.
 O ex-dirigente rubro-negro comunicou que está entrando com ação criminal contra o presidente do Conselho Fiscal, Leonardo Ribeiro, o Capitão Léo. E explicou por que tomou a decisão numa madrugada, de quinta para sexta-feira.  - Foi instintivo. Quando cheguei de Goiás, a decisão estava tomada. Minha ideia, na quinta-feira, era ir direto da maternidade, onde nasceu meu neto (Antônio), para a casa da Patrícia, mas ficou tarde e fiz a comunicação por celular. Depois, no dia seguinte, acordei e liguei para ela sobre o porquê de ter comunicado no meu site oficial. Foi o mesmo procedimento de quando eu cheguei.  Na época, ninguém me criticou por isso. Agora, estão me criticando.
Zico reconhece que não se saiu bem como dirigente. E na hora de avaliar o seu desempenho, mostrou a mesma humildade dos tempos em que brilhou nos gramados.
- As contratações não deram certo, então eu não fui bem. Não consegui realizar o que eu queria. Nos tempos de colégio, quando não se vai bem, dá-se uma nota abaixo de cinco. Só não mereço levar zero. Mas se o Rafinha (ex-divisão de base do CFZ e hoje no Flamengo) der certo, aí no futuro vou levar dez.
Abaixo, confira o desabafo de Zico.
zico entrevista'Para voltar ao Flamengo, só se for mandando. Como
presidente' (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
SAÍDA
Não abandonei o barco, fui chutado do barco. Eu não me sentia o comandante. Queria ir me defender das acusações no Conselho Fiscal, mas a Patrícia insistiu: "Não vai lá, não vai lá, deixa que eu resolvo." Fui para Goiás, para o jogo. Chego lá, recebo um email de um amigo meu, que é conselheiro, dizendo que haviam marcado reunião urgente no Conselho para discutir um contrato do Flamengo com o CFZ que pode causar um prejuízo ao Flamengo de R$ 50 milhões. Eu tinha recebido um outro email da Patrícia dizendo que não ia acontecer mais essa reunião, que estava tudo resolvido. Aí, fico sabendo depois que ela fez a reunião (terça-feira, com Leonardo Ribeiro) e o diretor da base (Carlos Noval) foi explicar tudo. Quem tinha que ir era eu. As acusações eram contra mim e os meus filhos. Como ia continuar assim, numa situação dessas? Perde-se a confiança. Tenho um passado. Eu não tinha mais condição, me jogaram do barco, me alijaram.
EXPOSIÇÃOTudo isso que estão falando é muito chute, não tem nem lógica. Agora, se não deixaram eu falar de uma coisa que diz respeito a mim, da qual estou sendo acusado, então não tenho mais condição de trabalhar. Essa coisa de falar que o comandante abandonou... Eu não sou o
Não é que você vai deixar de brigar. Mas tem que ter alguém para dar o murro na mesa e dizer que é tudo mentira"
comandante. Se tem uma pessoa que dá uma canetada e eu vou embora, não sou o comandante. No dia em que eu for, puder decidir as coisas... Não queria ser soberano em nada, eu trabalho em equipe. Agora, estava sentindo que meu trabalho estava sendo prejudicial. Como você pode ter no futebol um cara que está sendo acusado e está tendo desconfiança de um dos maiores conselhos do clube? Não tem condição. Nessa hora, o departamento vence. Não é que você vai deixar de brigar. Mas tem que ter alguém para dar o murro na mesa  e dizer que é tudo mentira. Isso foi resolvido externamente, e fiquei exposto. Então, agora a minha preocupação é somente me defender.
VOLTA AO FLAMENGO
Não digo que não vou voltar. Mas não faz parte da minha vontade. Só não vou dizer dessa água não beberei porque essa possibilidade existe. Mas para voltar, só se for mandando. Como presidente. Não tenho arrependimento de ter assumido. Mas você acredita, confia e se dá mal. Tem horas que é preciso vir como comandante mesmo. Continuo com os mesmos planos: CT, Fla-futebol. E dar tranquilidade. Agora passei de sócio proprietário, título que eu comprei, faço questão de dizer isso, para benemérito. E isso me possibilita me candidatar.
PAPO COM OS JOGADORESDisse para ela, na frente do plantel, e só fiz isso porque ela estava lá: "Você me apoiou pessoalmente, mas não me apoiou nos poderes do clube." Ela não defendeu ela mesma. Foi ela que fez a parceria. Tem que dar murro na mesa. E isso não aconteceu. O Flamengo não pode ser maculado. Depois, no dia seguinte, tudo o que falei tinha saído. E eu tinha avisado para os jogadores: Olha, o que falamos aqui na roda não é para sair. E eu não acredito que o jogador fale direto para o jornalista. Hoje, jogador tem empresário, assessor de imprensa. Um comentário que sai lá de alguém... isso é perigoso. Na minha época a gente chamava isso de X-9.
ESCUDO DE PATRÍCIA
Não sei se ela me usou como escudo. Mas, se tivesse usado, pelo menos deveria ter sido o meu escudo lá em cima.
A maneira como o Andrade saiu impediu a volta dele neste momento"
RONALDINHO GAÚCHO E VAIDADE
Ela (Patrícia) não pode colocar uma pessoa gerenciando o futebol e querer negociar diretamente ou mandar representante de marketing a Porto Alegre para falar com o irmão do Ronaldinho Gaúcho e nem me avisar. Queria ver se ela faria a mesma coisa para contratar o Cristian Borja.  Isso já me incomodou. No caso do Gilberto Silva, foi a mesma coisa: o vice de Finanças (Michel Levy). Ele queria envolver seis jogadores para fazer o negócio. Não saiu nada. E quem comanda não pode diferenciar. A diferença está no salário. Se chega o Vinicius (goleiro), ela tem que ir na apresentação. Não pode ir apenas quando dá manchete. Ou vai em todas ou não vai a nenhuma. Não pode uns serem apresentados numa salinha pequena e outros numa grande, num auditório, como o Deivid. Os jogadores sentem isso.
ANDRADEA maneira como foi a saída dele não foi boa, o que impedia a volta neste momento. Houve uma discussão com a presidente. A Patrícia estava insatisfeita. Perdeu a confiança no Andrade. Eu até poderia querê-lo de volta, mas criaria um problema maior.
CONTRA-ATAQUEErrei? Errei. Podem me cobrar por isso, me mandem embora. Mas dizer que meu filho levava dinheiro é sacanagem. Vão ter que provar isso criminalmente. Vamos entrar na Justiça contra as acusações levianas que foram feitas. Mandei os números para todos os conselheiros. Não sei onde tiraram esse prejuízo de R$ 50 milhões. Eu nem participei dessas negociações. Não sei o porquê dessas insinuações de coisas tão claras. Deve ter um motivo muito maior para serem feitas essas acusações. Queriam justificar alguma coisa.
PODER LIMITADO
Nas cinco negociações que fiz, todas, a Patrícia falou claramente para mim: 'Tudo o que tiver respeito à parte financeira, não faça nada sem me consultar.'  Eu pegava, mostrava o nome. Aprovavam, eu passava para eles. Não sentei à mesa para discutir contrato com ninguém. O Isaías Tinoco (supervisor) é que fazia isso, ele está lá. Para tudo, eu tinha que me reportar a ela e ao vice de Finanças. Tudo bem, até pela questão do estatuto, a autonomia que você tem que dar é a seguinte: quando você faz alguma coisa, tem que bancar isso. Não tive acesso a nenhum dos números do clube. Quando cheguei, pedi um diretor jurídico e um financeiro. Dois jurídicos que indiquei foram vetados...
AUTOAVALIAÇÃO
As contratações não deram certo, então eu não fui bem. Não consegui realizar o que eu queria. Nos tempos de colégio, quando não se vai bem, dá-se uma nota abaixo de cinco. Só não mereço levar zero. Mas se o Rafinha (ex-divisão de base do CFZ e hoje no Flamengo) der certo, aí no futuro vou levar dez.
zico entrevistaEm sua casa, na Barra, Zico admite que falhou nas contratações: 'Não consegui montar um time vencedor', diz o Galinho, que se daria pelo desempenho nota abaixo de cinco (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
SAÍDA NA MADRUGADAFoi instintiva. Quando cheguei de Goiás, a decisão estava tomada. Minha ideia, na quinta-feira, era ir direto da maternidade, onde nasceu meu neto (Antônio), para a casa da Patrícia, mas ficou tarde e fiz a comunicação por celular. Depois, no dia seguinte, acordei e liguei para ela sobre o porquê de ter comunicado no meu site oficial. Foi o mesmo procedimento de quando eu cheguei. Na época, ninguém me criticou por isso. Agora, estão me criticando.
ERROSNas contratações. Não consegui montar um time vencedor. O Leandro Amaral não era para ser a solução. Em momento algum eu falei isso. Veio para compor. Demos a ele uma oportunidade. O Val Baiano chegou com descrédito muito grande. Borja é um garoto, sentiu muito a pressão. E o Deivid e o Diogo poderão ser muito úteis ao Flamengo no futuro. Acho que também aconteceram lances capitais. Se o Borja faz aquele gol contra o Vasco no fim do jogo... Se o Leandro Amaral marcasse contra o Atlético Mineiro ou se o Val Baiano fizesse 2 a 0 contra o Guarani, as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas no Flamengo, é uma bala só para o atacante. E ele tem que matar.
zico entrevista'No Flamengo, é uma bala só para o atacante. Tem
que matar' (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
GÁVEA OU CT?Era totalmente favorável aos treinos na Gávea. Agora, que conheço melhor o Flamengo e vi de perto, sou radicalmente contra. A não ser que bloqueassem o acesso. Mas como é um clube social, não há como barrar. Pessoas que minam dirigentes e jogadores circulam livremente. Ouvi dizer que ganharam títulos de sócios de alguns dirigentes. Eu comprei o meu, não ganhei de ninguém.
FAMÍLIAMinha família não queria desde o início. Essa passagem foi um aprendizado. A decepção foi não fazer a torcida feliz, ter resultados.
Pessoas que minam dirigentes e jogadores circulam livremente na Gávea"
INTERFERÊNCIANunca pedi para treinador botar A ou B. Jamais assisti  a uma preleção. Quando eu era técnico, não admitia interferências. Chegaram a dizer que eu demiti a comissão do Andrade... Quando cheguei, estava o Rogério Lourenço, que teve o respaldo da Patrícia. Eu também não vi motivo algum para demiti-lo. Ele não queria ninguém da comissão técnica. O treinador de goleiros, que era o Roberto Barbosa, na véspera do jogo contra o Goiás pediu ao Isaías Tinoco para sair porque não se dava bem com o Rogério.
LUXA E CHANCES DO FLA
Experiência e capacidade ele tem. Falar da capacidade dele é chover no molhado. Tomara que dê certo. Mas o mais importante no momento são os jogadores. Disse isso para eles. Muitos jogos que eles têm pela frente são jogos de seis pontos. A hora é de prontidão total. Esquecer tudo. Time o Flamengo tem. O jogo está aberto. Mas risco de rebaixamento existe. Desde o início houve essa dificuldade. Quando o Flamengo chegou perto do G-4, diferença para os de baixo era apenas de três, quatro pontos. Este é o Campeonato Brasileiro. E a torcida precisa apoiar. Nessas horas, o time precisa muito dela. O jogador fica com medo de fazer as coisas, ser vaiado. A torcida precisa exigir mudanças no Flamengo, mas com projetos, sem ofensas, agressões.
MONTILLOTeve muito jogador aí que as pessoas disseram que eu indiquei. Mas um que o Helinho (Paulo Ferraz, vice geral) perguntou e eu recomendei de olhos fechados foi o Montillo. E o Jobson, do Botafogo. Tudo tinha que passar pelo vice financeiro e pela própria Patrícia. Mas no dia seguinte, vazava tudo na imprensa.
JOIAPode ser que eu esteja enganado sobre futebol, mas se o Rafinha (ex-CFZ) continuar nessa ascendente, pode se tornar uma das grandes joias do Flamengo no futuro. Ainda fizeram uma maldade com ele, dizendo que tomou o lugar do Matheus (filho do Bebeto) Eles nem jogam na mesma posição. Rafinha é atacante. Tem mais outros dois jogadores lá. Com essa história toda, ficam fazendo pouco de pessoas como o Toninho Barroso (técnico de juniores) e o Noval (diretor da base) Tudo tem que passar por eles..

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